A diarréia após a retirada da vesícula biliar é estuda a muitas décadas. Um dos primeiros artigos sobre o tema foi publicado em 1979 na JAMA –Journal of the American Medical Association –. Este artigo descreve a ocorrência de diarréia após colecistectomia em 3 pacientes operados no Johns Hopkins Hospital.
Em resumo, o artigo explica que a diarréia é secretora, devido o contato dos ácidos biliares, usualmente armazenados na vesícula biliar, com a parede do intestino. Os ácidos biliares di-hidroxilados, especialmente o ácido desoxicólico, podem causar secreção cólica mediada pelo monofosfato cíclico de adenosina, levando a diarreia secretora. Também explica que, após a remoção da vesícula biliar, a composição da pool de ácidos biliares muda, mas o tamanho total permanece o mesmo. Especificamente, a proporção de ácido desoxicólico no pool aumenta, o que pode contribuir para a diarreia secretora vista nesses pacientes.
O aumento da circulação entero-hepática de ácido desoxicólico e sua maior contribuição para o pool total de ácidos biliares pode ser responsável pelo aumento da secreção. O ácido desoxicólico é conhecido por ser o ácido biliar mais potente em causar secreção cólica, e sua presença aumentada no pool de ácidos biliares pode levar a um maior efeito no cólon.
Agora, por que alguns pacientes evoluem com diarréia e outros não?
Não está claro por que a diarreia se desenvolve em apenas alguns pacientes após a colecistectomia. No entanto, evidências recentes sugerem que algumas pessoas com diarréia funcional podem ter intestinos mais sensíveis aos efeitos secretórios dos ácidos biliares do que os pacientes controle sem diarréia. Essa sensibilidade intestinal aos ácidos biliares pode ser a causa da diarreia nos pacientes discutidos. Alternativamente, pode haver diferenças individuais na capacidade de transporte do íleo para os ácidos biliares, e esses pacientes podem ter baixas capacidades de transporte.
Caso apresente diarréia persistente após sua cirurgia, não deixe de consultar seu médico.
